quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Historias de Oxum

Oxum queria muito aprender a arte da adivinhação
e foi procurar Exu que, matreiro, disse a Oxum que lhe ensinaria os segredos da adivinhação se ela, durante sete anos, passasse, lavasse e arrumasse sua casa.
Oxum foi aprendendo a arte da adivinhação cumprindo seu acordo.
Findando os sete anos, Oxum e Exu, tinham se apegado bastante pela convivência em comum e Oxum resolveu ficar em sua companhia.
Um dia, Xangô passou, avistou Oxum que se banhava à margem do rio e se apaixonou.
Perguntou se não gostaria de morar em sua companhia em seu palácio em Oyó.
Oxum rejeitou o convite, pois lhe fazia muito bem a companhia de Exu.
Xangô então sequestrou Oxum e levou-a em sua companhia.
Exu saiu a procurar, por todas as regiões, pelos quatro cantos do mundo sua doce pupíla de anos de convivência.
Chegando nas terras de Xangô, foi surpreendido por um canto triste e melancólico que desvinha da direção do palácio do rei de Oyó, da mais alta torre.
Lá estava Oxum, triste e a chorar por sua prisão.
Exu, esperto e matreiro, procurou a ajuda de Òrùnmílá, que de pronto agrado lhe sedeu uma poção de transformação para Oxum desvencilhar-se dos dominíos de Xangô.
Exu, por meio da magia pôde fazer chegar as mãos de sua companheira a tal poção.
Ela tomou a poção mágica e transformou-se em uma linda pomba dourada, que voou e pôde então retornar em companhia de Exu para sua morada.
Oxum queria saber o segredo do jogo de búzios que pertencia a Exu e este não queria lhe revelar.
Ela então procurou na floresta as Iyami Oxorongá e lhes perguntou como enganar a Exu e conseguir o segredo do jogo de búzios.
As feiticeiras, querendo pregar uma peça a Exu, ensinaram toda a sorte de magias a Oxum, mas exigiram que ela lhes fizesse uma oferenda a cada feitiço realizado.
Oxum concordou e foi procurar Exu.
Este, desconfiado, perguntou-lhe o que queria por ali, que ela deveria embora e que ele não a ensinaria nada.
Ela então o desafia a descobrir o que tem entre os dedos.
Exu se abaixa para ver melhor e ela sopra sobre seus olhos um pó mágico que ao cair nos olhos de Exu o cega e arde muito.
Exu gritava de dor e dizia;
"Eu não enxergo nada, cadê meus búzios?"
Oxum fingindo preocupação, respondia:
"Búzios? Quantos são eles?"
"Dezesseis", respondeu Exu, esfregando os olhos.
"Ah! Achei um, é grande!"
"É Okanran, me dê ele".
"Achei outro, é menorzinho!"
"É Eta-Ogundá, passa pra cá..."
E assim foi até que ela soube todos os segredos do jogo de búzios, Ifá, o Orixá da adivinhação, pela coragem e inteligência da Oxum, resolveu dividir o poder do jogo entre ela e Exu.
Oxalá passou pela aldeia de Oxum, onde pretendia parar e descansar.
Exu, o mensageiro, correu para avisar Oxum que o grande orixá funfun estava a caminho de sua cidade.
Era preciso organizar uma grande recepção, pois a visita era muito importante para todos.
Ela apressou-se com os preparativos da festa, ordenando a limpeza de todas as casas e lugares públicos, bem como que os enfeites utilizados fossem da cor branca.
Oxum cuidou pessoalmente da ornamentação e limpeza de seu palácio, pois tudo tinha que estar perfeito, à altura de Oxalá.
Com tantos afazeres importantes, em tão curto espaço de tempo, Oxum não se lembrou de convidar as Iyami para a grande festa e as feiticeiras não perdoaram a desfeita.
Resolveram desmoralizar Oxum.
Toda a aldeia estava impecável.
O palácio de Oxum, caprichosamente preparado, tinha seus móveis e utensílios cobertos por tecidos de uma alvura imaculada.
Branca também seria a cor das roupas utilizadas na cerimônia.
Mas, no dia da chegada de Oxalá, Oxorongá entrou disfarçada no palácio para colocar, no assento do trono de Oxum, um preparado mágico, sem ser notada.
Oxalá finalmente chegou, sendo respeitosamente reverenciado numa grande demonstração de fé e admiração ao grande mensageiro da paz.
Oxum, em seu trono, esperava impaciente a entrada de Oxalá em seu palácio para oferecer-lhe seu próprio assento.
Mas, ao tentar levantar-se, estava presa em sua cadeira e não conseguia soltar-se.
Fez tanta força, que, mesmo ferida, conseguiu ficar em pé, mas uma poça de sangue havia manchado suas roupas e também sua cadeira.
Quando Oxalá viu aquele sangue vermelho no trono em que se sentaria, ficou tão contrariado, que saiu imediatamente do recinto, sentindo-se muito ofendido.
Oxum, envergonhada, não conseguia entender porque havia ficado presa em sua própria cadeira, uma vez que ela mesma cuidara de todos os preparativos.
Escondendo-se de todos, foi consultar o oráculo de Ifá para obter um conselho.
O jogo, então, lhe revelou que Oxorongá havia enfeitiçado seu assento, por não ter sido convidada.
Exu, a pedido de Oxum, buscou o grande pai, para explicar-lhe o ocorrido.
Oxalá retornou ao palácio, onde a grande mãe das águas estava sentada de cabeça baixa, muito constrangida.
Quando ela o viu, começou a abanar seu abebe e transformou o sangue de suas roupas em penas vermelhas, que, ao voar, caíram sobre a cabeça de todos os que ali estavam, inclusive a de Oxalá.
Em reconhecimento ao esforço que ela empreendeu para homenageá-lo, ele aceitou a pena vermelha (ekodide), prostrando-se à sua frente, em sinal de agradecimento.
Quando os orixás chegaram à terra, organizaram reuniões onde mulheres não eram admitidas.
Oxum
Para se vingar, tornou as mulheres estéries e impediu que as atividades desenvolvidas pelos deuses chegassem a resultados favoráveis.
Desesperados, os orixás dirigiram-se a Olodumaré e explicaram-lhe que as coisas íam mal sobre a terra, apesar das decisões que tomavam em suas assembléias.
Olodumaré explicou-lhes então que, sem a presença de Oxum e seu poder sobre a fecundidade, nenhum de seus empreendimentos poderia dar certo.
De volta à terra, os Orixás convidaram Oxum para participar de seus trabalhos, o que ela acabou aceitando, depois de muito lhe rogarem.
Em seguida, as mulheres tornaram-se fecundas e todos os projetos obtiveram felizes resultados.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Orientação para Médiuns Com o Espírito Incorporado


O kardecismo é muito mais tolerante que a Umbanda. Na mesa um espírito incorpora, deixa uma linda mensagem de amor ou de advertência para os perigos mundanos sem a necessidade de dizer seu nome. Na umbanda, ele tem que incorporar no ponto de chamada, com a tipicidade da linha (caboclo, preto-velho ou criança), cumprir todas as ordens da hierarquia do terreiro, riscar o seu ponto individual, beber, fumar e dar seu nome, correndo o risco de, se não cumprir tudo, ser chamada a sua atenção.

Claro que tudo será feito com cautela e tempo de treinamento. Para chegar a isso, o médium passa uma dificuldade de saber o que fazer dentro do terreiro. Ele está incorporado com o orixá, sentindo toda sua energia, mas ainda falta muito para dar o passo certo como cavalo bem domado, chegando mesmo em alguns momentos achar que o espírito se afastou, fato explicado pelo impulso mental do médium. Nessa parte quero chamar a atenção de um fato de grande importância. Dificilmente um médium é sonâmbulo (ou inconsciente, como alguns dizem), sendo o mais comum o médium consciente, aquele que sabe o que está acontecendo, mas não tem o controle das palavras e dos gestos.

É o que chamamos de terceira energia. Vejam como funciona: existe uma fusão do espírito do médium com o espírito comunicante, criando-se uma terceira energia. Gosto de dar exemplos. O café e o leite, separados, são puros.
Misturados criam uma terceira bebida, podendo ser mais preto ou mais branco, conforme a quantidade das bebidas. Mas sempre, a união de ambos, terá uma terceira qualidade. É impossível a comunicação pura do espírito. O importante é a presença do espírito, com maior ou menor intensidade. Voltando ao médium perdido no terreiro, o seu impulso inicial é procurar alguém para lhe dar um passe ou tocar em sua testa. Muitos dirigentes não gostam desse procedimento e inibem o espírito de fazer isso, o que é um erro porque, talvez até mais que o próprio dirigente, é o espírito quem quer o desenvolvimento de seu cavalo escolhido.

Recomendo deixar que isso aconteça, sem exageros, é claro. Com o decorrer do tempo esse médium ganha um charuto, cachimbo ou cigarro de palha, conforme a entidade, e é quando ele começa a se acalmar, até procurar um lugar para sentar. Daí para riscar o ponto é bem mais rápido. Quero anotar aqui, para conhecimento dos médiuns em desenvolvimento, alguns erros que atrapalham bastante a evolução da mediunidade: não procurar, sob nenhuma hipótese, tentar adivinhar o nome do espírito; não querer riscar o ponto sem antes estar bem assentado com a entidade; não tentar dar avisos e recomendações a ninguém; não ter ciúmes do espírito e não pensar que ele é seu, porque espírito não tem dono.

É comum o médium incorporado procurar um amigo seu para lhe dar um passe ou falar com ele, e isso não invalida a incorporação e não quer dizer que foi o médium que procurou e não o espírito, principalmente porque a entidade, sabendo das dificuldades de seu cavalo, tenta de todas as formas facilitar a incorporação. Alguém já perguntou como o espírito sabe que a pessoa é amiga do médium? Resposta : mais do que o guia, ninguém conhece tanto os amigos de seu protegido.

 

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

OS PERIGOS DA MEDIUNIDADE



Quem fuma cachimbo está sempre impregnado do cheiro da fumaça. O dentista quando sai de seu consultório exala o cheiro forte do remédio que usa em seus pacientes. Quando trabalhamos com a incorporação de espíritos os resíduos de suas energias ficam na nossa aura. O acumulo sucessivo das incorporações deixa essas energias depositadas e em número cada vez maior. Se por um momento nós tivermos raiva de alguém e nossa energia for direcionada a essa pessoa, junto com ela todas as energias acumuladas engrossam o poder da vibração, podendo causar um mal imprevisível ao atingido, e isso sem nenhuma responsabilidade ou vontade das entidades. Por isso quando dizem que um Exu fez o mal, na verdade foi só o médium que usou da energia dele para provocar a maldade. Vale aqui colocar uma ordem nessas palavras: Exu não faz o mal, por se ele fizer não será Exu e sim um espírito malvado se fazendo passar por ele. Por essas razões os médiuns da Umbanda devem ter a consciência para não terem pensamentos negativos contra ninguém.

Espiritual X Social & Profissional

 
 
A Umbanda é envolvente, misteriosa e leva muitas pessoas ao perigo do excesso quase chegando à beira do fanatismo. Um médium deve ter um equilíbrio em suas atividades, claro que jamais deixando de cumprir suas obrigações para com o terreiro e outras sejam elas sociais, profissionais e não viver todo o seu tempo cantarolando pontos de Umbanda e pensando em seus Orixás. Tudo tem o seu momento certo e a religião deve ser vivida com absoluta harmonia com suas atividades cotidianas. Aos jovens é recomendado continuar vivendo com seus amigos seja qual for a fé que eles tenham, não discutir a religião, ir aos cinemas, festas, fazer tudo que um jovem tem direito, inclusive estudar. Aos que têm família constituída, recomendo deixar as entidades no terreiro e em seu lar, embora com o coração sempre voltado para sua espiritualidade, vivam as vidas do cidadão comum. Já ouvi falar de muitos namoros, noivados, amizades e até casamentos se dissolverem pelo fanatismo.

C.E.U.



A Umbanda apresenta facetas interessantes e que fogem ao tradicionalismo das religiões. Embora não exista nenhuma regra escrita que lhe dê o poder, o pai-de-santo (leia-se sempre: pai-de-santo ou mãe-de-santo) é quem dirige um terreiro de Umbanda e sua palavra tem a força da decisão. O fato peculiar é que ele não é nomeado e muito menos eleito: ele tem seguidores que acreditam e aceitam o que ele prega. Queiram ou não, ele é o chefe da comunidade que se abriga sob seu teto e o seu Orixá será sempre o chefe espiritual do terreiro. O Orixá cósmico do dirigente marca a linha de trabalho do terreiro e a entidade dessa linha que incorpora nele sempre será o chefe espiritual do terreiro que ditará todas as normas e regras para o seu funcionamento.

Vale dizer que igualmente inquestionáveis são as decisões do pai-de-santo, por se entender que eles interpretam a vontade dos espíritos responsáveis pelo terreiro. O cuidado com um templo umbandista é muito complexo por haver a necessidade de uma permanente assistência aos pontos de segurança firmados pelo seu responsável e a própria dinâmica da gira que está sempre em permanente ebulição e por isso fica sob austera vigilância. Para isso existe toda uma hierarquia dentro de um terreiro, começando pelo pai-pequeno (leia-se sempre: pai-pequeno ou mãe-pequena), que é o substituto do pai-de-santo, além de ter a obrigação de fazer com que os trabalhos sejam rigorosamente dentro da linha pré-esta bel ecida pelos dirigentes principais.

Depois deles surgem os capitães-de-terreiro, que são os que auxiliam os trabalhos e cuidam das coisas do terreiro, mas jamais podem substituir as tarefas dos dirigentes maiores, a não ser que lhe seja especificamente autorizado para tal. Finalmente os ogans, que são os que cuidam da parte musical do terreiro, principalmente dos atabaques. Entre essa hierarquia não pode haver discordância de filosofia. A fidelidade entre eles tem que ser absolutamente homogênea. Temos que entender ser impossível a unanimidade no conceito e no entendimento da religião, e ela pode ser discutida e modificada, principalmente na Umbanda que ainda não está bem definida em suas regras, mas sempre em nível interno da hierarquia.

Discordâncias e não aceitação do mando levam os membros a uma ruptura da hierarquia capaz de fazer o papel do palanque de uma cerca. Mandar e ser mandado não podem ser confundidos com prepotência e submissão. Aprendi com uma entidade que quem não sabe obedecer jamais vai poder mandar. O soldado faz continência ao sargento, o sargento ao tenente, o tenente ao capitão, o capitão ao major, o major ao coronel, o coronel ao general e o general à Bandeira Nacional.
Já me perguntaram se eu gosto da Umbanda. Refleti bem antes de responder afirmativamente. Se sou Umbandista é porque gosto. Na verdade não sei porquê.

Na minha reflexão descobri que antes eu tinha compromisso só com as entidades que eu trabalho, hoje tenho com todas que trabalham no terreiro. E as pessoas às vezes não entendem que todos somos iguais a qualquer um, com todas as emoções, acertos e erros de um médium, e o que difere é que uns talvez mais experientes outros mais responsaveis se obrigam a cumprir o compromisso que assumiram perante os espíritos que os cuidam. E todo Umbandista , entre o dever de cumprir as suas obrigações e magoar um membro de sua familia, ou amigo ou qualquer pessoa do seu circulo de relações, fica sem opção: o compromisso com a espiritualidade tem que prevalecer. Tenho acertado comigo mesmo: quando eu sentir que estiver, por um motivo qualquer, atrapalhando o terreiro, entregarei minha guia ao meu Pai.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

MENSAGEM DO EXU TRANCA RUA DAS ALMAS


O Exú Tranca Ruas das Almas chamou um chefe de terreiro e ordenou-lhe:

"Depois da meia-noite, vá sozinho no cemitério, acenda sete velas vermelhas e sete pretas, ponha no centro uma garrafa de marafo, beba metade dela e fique na frente até todas as velas apagarem."

O chefe, sem nada perguntar ou questionar, nem mesmo saber por que a determinação, de pronto perguntou:

"Deve ser hoje ou pode ser amanhã?".

Demonstrando imensa satisfação o Exú sentenciou:

"Não precisa fazer nada, meu filho.
Estava apenas testando tua fé.
Você é um verdadeiro Quimbandeiro!"

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

SE EU SAIR, O TERREIRO FECHA!


É comum que depois de algum tempo que uma pessoa está num terreiro, mesmo que em pleno desenvolvimento mediúnico, ela pense que é insubstituível. Isso é muito comum. O indivíduo tem a sensação clara de que se ela deixar o terreiro, o mesmo não sobreviverá, não conseguirá dar continuidade aos atendimentos e/ou coisa parecida. Ela começa a se achar vítima Do Cacique de Umbanda ou Pai de Santo, dos médiuns mais antigos, dos seus irmãos de fé e até da consulência. Ela começa a ter um desejo inconsciente de "punir o terreiro" através da sua saída, pois ela terá a certeza que todos virão de joelhos implorar a sua volta.

Sei de pessoas que ficaram totalmente decepcionadas e mesmo depressivas ao verem que o terreiro em que eram membros sobreviveu à sua saída e que alguns meses depois nem se lembravam mais dela. Geralmente essas pessoas começam a falar muito mal do terreiro, do sacerdote e até mesmo inventam boatos dizendo que o terreiro está com problemas espirituais, administrativos, de moralidade ou outros quaisquer e por isso ela o deixou.

Conheço pessoas que ao deixar seus terreiros comentaram ter absoluta certeza de que seu "ex-Pai de Santo" viriam correndo oferecendo um "cargo" ou alguma regalia para que voltassem. Um homem que conheci, aceitou o convite de frequentar a corrente mediúnica de outro terreiro dizendo estar aguardando o telefonema do sacerdote pedindo sua volta. Eles não conseguirão sobreviver sem mim, afirmou ele.

Meses depois, ele não frequentava mais lugar algum ainda...

Quero deixar claro que esse sentimento de ser insubstituível é natural em muitas pessoas, pois elas realmente são pessoas-chave para os terreiros em que frequentam. De fato, seus mentores sentirão muito a sua saída. De fato elas farão falta. Mas cuidado para não cair nessa armadilha.

A verdade é que nem membros, nem mentores são insubstituíveis e é preciso ter muita humildade, calma, paciência e, principalmente, muito equilíbrio para entender essa verdade.